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Sobre queda ou desejo de flutuação

 

2014

 

acrílico, polipropileno, madeira, alumio, chumbo, latão, sistema ótico e eletrônico

 

 

 

Durante a Residência que fiz no RedBull Station, no centro de São Paulo, meu ateliê se encontrava de frente para o Edifício Joelma, notório pela catástrofe da década de 70 em que 191 pessoas morreram em decorrência de um incêndio. Conviver com aquele monumento vivo numa das regiões mais sensíveis da cidade me trouxe verias questões sobre a relevância do meu trabalho e que rumos artísticos tomar a partir deste contexto. 

Depois de um mês convivendo com aquele contexto comecei a achar inevitável abordar o tema do Joelma, era muito forte para mim, meus sonhos estavam tomados pelo desastre e não conseguia pensar em outra coisa.   

No segundo mês de residência comecei a esboçar e trabalhar na peça que ganhou o nome de Sobre queda ou desejo de flutuação, uma escultura que de alguma maneira pensa no desejo de se atirar das alturas fugindo do fogo como um ato de esperança, não de desespero. O salto para o vazio é abordado neste trabalho como muito mais do que apenas retardar a morte eminente, mas um impulso de resistência transcendente.

De alguma maneira eu sei que somente se arremessando no desconhecido que temos a oportunidade de mudar de perspectiva e ali, em frente a minha janela, havia se passado algo muito potente, mesmo que trágico, dolorido e triste eu me identificava com o ocorrido, me imaginava saltando junto, me arremessando ao desconhecido.

No final do segundo mês eu tinha uma fita com 191 silhuetas recortadas, a fita estava esticada dentro de uma torre de sete metros por onde se deslocava um elevador com uma espécie de projetor de filme invertido. Invertido porque normalmente o filme corre dentro do projetor, neste caso o projetor se deslocava sobre a fita de silhuetas disparando um flash de luz para cada uma delas em suas descida. O resultado era de uma espécie projeção na parede da galeria do Station, uma animação de uma personagem caindo, mas observando a escultura percebemos claramente que as silhuetas se encontram ali paradas, flutuando no espaço e a queda é só uma ilusão de óptica fruto do deslocamento de descida do elevador/projetor. Depois de descer projetando ele sobe silenciosamente para repetir o ciclo.

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